sábado, 29 de dezembro de 2007

You go your way, I'll go back to where I came from

Já aqui tinha abordado esta temática, embora com um título ligeiramente diferente, mais optimista, a apelar à total abnegação em prol do outro, da pessoa que nos complementa, ao lado de quem queremos passar todos os minutos possíveis e imaginários - chegamos mesmo a inventar pretextos para prolongar uns minutos que, por mais fugazes que possam ser, nos enchem de uma alegria imensa e de uma plenitude inigualável.
A segunda parte da frase que hoje vos coloco invoca uma realidade que já antes havia focado nesse texto a roçar o optimismo, a experança de um mundo em que a abnegação poderá conduzir à felicidade. Dizia-vos, na altura, que, quando o outro deixa de achar a nossa companhia essencial e deseja seguir em frente sozinho ou com outra companhia que, na altura, lhe parece ideal, aquele que fica para trás não sabe que caminho deve tomar. Terá, por vezes, abdicado de determinados hábitos ou rituais que talvez lhe fossem benéficos para se entregar, de corpo e alma, ao caminho que o outro segue.
E agora, que o outro deseja abdicar da companhia que o empurrou durante algum tempo, que fazemos nós? Ficamos como que suspensos no ar, sem saber qual o caminho a tomar, sem saber como travar o rio salgado que de nós emana em jorros e parece não ter fim. Ficamos como múmias em que as ligaduras servem para segurar os destroços que a granada do adeus lançou um pouco por toda a parte e que nós queremos voltar a juntar, peça por peça, mas que requer uma grande perícia e, por vezes, há algo que fica de fora.
Olhamos em frente e tudo nos traz recordações do caminho a dois, cada canto esconde uma história, cada gesto que façamos invoca um momento vivido em conjunto, um plano para o caminho que ambicionávamos percorrer.
O outro segue o seu caminho e nós que fazemos? Depois de não existir mais água salgada em nós (será que esse dia existe?) voltamos para o lugar de onde viemos, mais vazios, mais tristes, menos confiantes e terrivelmente magoados, mas, acima de tudo SOZINHOS.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Beowulf

Muito antes de ser um jogo de computador (como alguém me disse que era a base deste filme), Beowulf foi a primeira epopeia a ser escrita em língua inglesa - aquela língua inglesa que ninguém consegue ler, o "Old English" que os estudantes de linguística têm de saber decifrar. Além disso, aqueles que não se limitaram a ver o Senhor dos Anéis nas salas de cinema ou no conforto do sofá e leram o filme e pesquisaram sobre o seu autor, o mundo que descreve e todo o universo envolvente, sabem também que uma das fontes de inspiração de J.R.R. Tolkien terá sido esta epopeia antiga que descreve a vida de um destruidor de demónios que acaba por sucumbir à fraqueza da carne e do ao desejo de grandiosidade.
Foi com isso na mente (e desconhecendo o tal jogo de computador) que fui ver este filme. Sabendo previamente que se tratava de uma película em 3D e que o Alvaláxia - perdão, Lusomundo Alvalade - o tinha nesta vertente, qual não foi o meu espanto ao pedirem-me mais 1,50 euros de "taxa de 3D". Mas pronto, lá fui...
As personagens, apesar de feitas por computador, possuem todas as características dos actores que lhes dão voz, nomeadamente Anthony Hopkins, Angelina Jolie e John Malkovich, entre outros. Os efeitos 3D que nos chamam muito a atenção no início do filme, passado algum tempo começam a atenuar-se, a desmembrar-se. A história arrasta-se e teria ficado resolvida em metade do tempo, digo eu. Gostei, mas não amei.
Sinceramente, acho que ainda não estou preparada para o mundo 3D, principalmente se tiver de pagar mais 1,50 por cada filme!
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Uma nota final sobre o novo Lusomundo Alvalade: Acho que a comunidade cinéfila só ficou a perder com esta troca, apesar do aparecimento de uma sala Bollywood. Os filmes independentes que ainda passavam no Alvaláxia foram totalmente substituídos pelos blockbusters da Lusomundo e, infelizmente, os filmes independentes ficaram restritos aos cinemas Medeia e um ou outro nos UCI. É lamentável...

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Pensa Abelhês!

Na passada quinta-feira, a convite da RFM, tive a oportunidade de assistir à ante-estreia vip da versão dobrada em português do novo filme dos criadores de Shrek e Madagáscar. Trata-de de A História de uma Abelha, no original Bee World.
Ante-estreia vip é um simples nome pomposo para dizer que lá estavam os actores que dão voz aos bonecos em português, assim como vários outros nomes bem conhecidos da televisão e das revistas cor-de-rosa e não só. Tratando-se de um filme de animação, é claro que todos eles se faziam acompanhar de filhos, sobrinhos, afilhados, netos e afins. Eu, que deste leque só conto os sobrinhos e os sobrinhos "emprestados", não podendo contar com nenhum deles para me acompanhar ao evento, lá arrastei uma amiga do meu tamanho e lá nos intrusámos no meio de tão excelsa companhia. Isto tudo para explicar o meu aparecimento numa ou noutra revista da especialidade e para que não vos questioneis se terei virado condessa, socialite ou emplastro:)

Mas passemos ao filme propriamente dito e à sua versão portuguesa. Pois que a história é agradável e nos proporciona algumas boas gargalhadas (humor inteligente, na minha modesta opinião inacessível a crianças de 3, 4, 5 anos a quem todos parecem achar que os filmes de animação estão destinados...)
Barry é a "ovelha negra" da colmeia, o inadaptado, que não quer passar o resto da sua vida de abelha a fazer sempre o mesmo serviço na produção de mel e que deseja ver o mundo lá fora, apesar de todos os perigos que o aguardam ao ar livre, como é o caso de uma mera gota de chuva... Por uma questão de sorte, consegue sair da colmeia acompanhado pelo esquadrão do pólen e, por uma questão de azar, acaba por conhecer Vanessa, uma florista humana que o salva de uma morte certa. Por uma questão de gratidão os dois ficam amigos e, por uma questão de acaso, Barry descobre que os humanos escravizam as abelhas, roubando-lhes o mel que tanto trabalho têm a produzir. É aí que começa a verdadeira aventura de Barry no mundo dos humanos, onde o abelha de camisola às riscas travará uma luta para mudar o destino da colmeia e de todas as abelhas do mundo... E mais não conto, porque estaria a estragar o filme.
Na versão nacional, Nuno Markl é Barry e Sónia Tavares, a vocalista dos "The Gift", tem uma participação especial em que, apesar de não cantar, promete encantar.
A História de uma Abelha poder-se-ia passar no seu quintal, no jardim defronte da sua casa ou até mesmo naquele matagal por onde passa a caminho do trabalho. É a história de uma abelha como outra qualquer que luta para sobreviver aos insecticidas, às revistas dobradas e às fortes chuvadas. É a história de uma amizade pouco provável que acaba por dar frutos. É um filme que nos mostra uma (possível) perspectiva do mundo visto através dos olhos de uma inocente abelhinha que pensa tudo, menos abelhês!
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